Trecho Resumo:
Texto Completo:
"Reservar uma porcentagem para estudantes de pele negra ou
parda é uma afirmação de que esses são incapazes de conseguir seu ingresso na
universidade? Ou ainda, se a constituição federal defende que não pode haver
discriminação do tipo que favorece um individuo por conta de sua raça, cor ou
etnia, por que a política de cotas raciais favorece aqueles de cor parda ou
preta?
- “Cotas para negros, porque todo branco nasce rico!”. Ao
contrário do que essa frase incita as cotas raciais não existem para favorecer os
negros. O propósito é diminuir a discrepância entre a proporção de negros na
população e a proporção de alunos negros – e negros em “cargos de prestígio”.
Acontece que para fazer parte dos 50% de escola pública
aprovados pelo Congresso três critérios são válidos: (1) ter cursado todo o
ensino médio em escola pública, (2) comprovação de renda até 1,5 salários
mínimos, (3) ser pardo ou negro - nesse caso, com uma fração de vagas dentro
dos 50% de escola pública e proporcional a quantidade de negros e pardos na
região. Ou seja, não negros de escola
particular já estaria concorrendo aos OUTROS 50% de qualquer forma, com medidas
de cotas raciais ou não."
Texto Completo:
Desde o anúncio do governo federal de que universidades
federais agora passariam a ter uma porcentagem de 50% reservada a alunos da
rede pública e ainda uma porcentagem (não fixa e dentro dessas vagas) para
alunos negros e pardos, esse assunto se tornou polêmico e gera discussões entre
aqueles que possuem diferentes opiniões. Mas, na opinião desse autor, não há
nada mais idiota do que uma opinião formada sem informação.
O assunto “cotas raciais” gera algumas afirmações entre
aqueles que são contra, exemplos como: “o próprio programa de cotas é racista”
ou “isso só incentiva o ódio racial” são frequentes. Aparentemente, reservar
uma porcentagem proporcional à população negra da região - para estudantes de
pele negra ou parda - é uma afirmação de que esses são incapazes de conseguir
seu ingresso na universidade sem o incentivo. Ou ainda, se a constituição
federal defende que não pode haver discriminação do tipo que favorece um
individuo por conta de sua raça, cor ou etnia, por que a política de cotas
raciais favorece aqueles de cor parda ou preta?
É uma excelente pergunta e, de fato, gera muitos questionamentos. Um deles é: A população (negra) que corresponde à 50% do país inteiro também corresponde a 3% dos formados em medicina (por exemplo), incentivá-los os está colocando em posição de vantagem? É, parece piada. Tudo bem, 3% é uma aproximação, na verdade são 2,66% no senso de 2010. Na tabela abaixo estão os cursos e as respectivas porcentagens de alunos negros e pardos formados:
Um gráfico sempre facilita a visualização:
Não se pode afirmar que incentivar quem está historicamente
(e, como visto na tabela, estatisticamente) em desvantagem, os coloca em
posição de vantagem.
- “Então cotas para negros, porque todo branco nasce rico!”.
Ao contrário do que essa frase (frequentemente vista em redes sociais e postada
por pessoas com opinião sobre o assunto, mas sem nenhuma informação sobre o
mesmo) da a entender, as cotas raciais não existem para favorecer os negros. O
propósito é diminuir a discrepância (absurda) entre a proporção de negros na
população e a proporção de alunos negros – e de futuros profissionais em
“cargos de prestigio”.
Sobre esperar um aumento do ódio com essa política de
“favorecer” negros e pardos, bom, é possível. Afinal, alunos que de fato se
esforçam muito e atingem as notas necessárias para determinado curso são
ultrapassados por outros pelo simples fato de esses outros serem negros? – quem
faz esse questionamento precisa (muito) de informação, porque até pra ser
contra as cotas, primeiro deve-se entendê-las. Ninguém é ultrapassado por
ninguém.
Como citado anteriormente (com fonte e tudo) o que o
congresso aprovou foram 50% das vagas em universidades federais para estudantes
de escola pública.
Acontece que para fazer parte dos 50% de escola pública
aprovados pelo Congresso três critérios são válidos: (1) ter cursado todo o
ensino médio em escola pública, (2) comprovação de renda até 1,5 salários
mínimos, (3) ser pardo ou negro - nesse caso, com uma fração de vagas dentro
dos 50% de escola pública e proporcional a quantidade de negros e pardos na
região. Ou seja, não negros de escola
particular já estaria concorrendo aos OUTROS 50% de qualquer forma, com medidas
de cotas raciais ou não.
- “Ah! Mas as cotas deveriam ser para pobres!” Os critérios
(1) e (2) citados acima já deviam banir esse argumento tosco. As cotas para
pobres existem.
Em outras palavras, ninguém passa só por ser negro, passa
quando é negro e esforçado. Para os estudantes não negros nem pardos que ficam
no quase, restam duas opções: agir com maturidade e continuar com o esforço
(com a certeza de uma pontuação melhor) ou, fazer igual esse estudante frustrado,
que culpou as cotas pelo insucesso, e promover o racismo:
Dizer que as cotas raciais promovem o racismo é, na verdade,
ingenuidade. O racismo existe. O ódio racial, no entanto, só não é muito
exposto porque as coisas funcionam muito bem como estão: negros e pardos
ocupando as posições de “base” enquanto brancos ocupam as de maior prestígio –
afinal, sempre foi assim.
Já ouvi que o Brasil é um exemplo sobre convívio de diferentes
etnias. Discordo, e não precisa ser muito inteligente para discordar comigo. É ingenuidade
dizer que não há racismo por aqui.
Oras, se negros são 50,7% da população (e supostamente não
há racismo), por que não são também 50% dos formandos em direito? Ou 50% dos
senadores, dos juízes do STF, dos médicos, etc. – quando foi a última vez que
você foi atendido por um médico negro? Uma jornalista em Natal ficou tão
espantada quando viu médicas negras que as comparou com empregadas domésticas e
rezou pelos pacientes! (As médicas eram do programa Mais Médicos, que trazem médicos
cubanos, em suma negros).
“Ah! mas e o Joaquim Barbosa?”. Essa pergunta não faz
sentido, eu sei, mas vi uma imagem intrigante circulando nas redes sociais onde
Joaquim Barboza está retratado como “mene” com a seguinte frase: Cotas? Não,
obrigado. Eu estudei. A parte engraçada é que ele mesmo já se mostrou a favor
das cotas e comentou que já foi vitima de preconceito. Outra curiosidade: a
corte do STF tem 11 juízes; um negro. Imagino que independente da sua opinião
você sabe que Joaquim Barbosa é uma exceção. Penso que em um país sem racismo,
a distribuição do STF deveria ser próxima à distribuição da população; 50 - 50.
Há quem defenda uma reforma em todo o sistema educacional –
eu também - certamente contribuiria para a distribuição igualitária da
população e dos profissionais capazes e de prestígio.
Com escolas públicas
de qualidade desde a base dos alunos, não haveria necessidade de reservar vagas
em universidades federais.
Em uma reforma completa da educação pública a proporção de
negros na região deveria ser respeitada, com criação de vagas para alunos negros.
Pois (como foi citado insistentemente com o objetivo de ficar claro e evitar
questionamentos sem sentido) o objetivo não é favorecer ninguém e sim deixar a
distribuição de alunos – futuros profissionais - proporcional a da distribuição
da população.
Não. Isso não prejudicaria brancos pobres. Pois quem defende
uma reforma na educação, certamente defende que haja vagas para todos, correto?
Ou não?
“E se o neguinho preferir ficar no semáforo e não ir pra
escola?” – bom, nesse ponto espero que esteja claro que nem mesmo uma reforma
em todo o sistema educacional é capaz de cumprir o objetivo das cotas (deixar a
distribuição de alunos – futuros profissionais - proporcional a da distribuição
da população), mas sim, a reforma é necessária para outros diversos objetivos.
Já para o objetivo que motivou a medida das cotas raciais,
essas são necessárias. Nem que seja uma medida não definitiva.
O fato é que as cotas existem. Consequentemente, sugiro que
se acostume com advogados, engenheiros, designers, médicos e executivos negros
capazes e de boa formação.
Fontes:







Nenhum comentário:
Postar um comentário