quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Melhoras no transporte público..?

Milhões de paulistanos dependem do transporte público. Precisam encarar a lata de sardinha humana que é o Metrô e os trens da CPTM. Usuários de ônibus, se é que se pode dizer, sofrem mais. Além da superlotação, o trânsito caótico da cidade prolonga as horas de sofrimento na ida para o trabalho e na volta para casa.

Estima-se que 6 milhões de usuários sejam transportados de ônibus diariamente em São Paulo. A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) transporta cerca de 3 milhões de pessoas diariamente. Já o Metrô paulistano transporta cerca de 4,5 milhões de usuários por dia.



Faça as contas: essa quantidade de pessoas pagando 3 reais diariamente (supondo somente a ida) dá uns 40,5 milhões de reais POR DIA de faturamento para as empresas de transporte. Por mês da aproximadamente... bom, dá dinheiro para caralho.

É normal nos questionarmos se esse valor não pode ser revertido em melhoras para o sistema de transporte público da maior cidade do país.

Foquei em São Paulo, pois se a maior cidade do País que é a 7º maior economia do mundo tem problemas tão básicos, o que dirão os usuários das demais cidades. O fato é que a má qualidade do transporte público não está restrita as metrópoles, mas nas metrópoles é que são evidenciadas as causas.

Quem nunca se perguntou: por que permitir esse trânsito quando se pode investir no transporte público? Por que as constantes “melhorias” e “reformas” nas linhas de metrô e trem não resolvem o problema de superlotação? Por que tudo que é arrecadado não é de fato usado para resolver o problema, apenas para maquiá-lo como se houvesse uma tentativa de resolução?

A resposta para todas essas questões pode ser resumida respondendo outra pergunta.


Por que é interessante que o transporte público não seja bom? - Essa, caro leitor, é a pergunta correta.

As empreiteiras justificam que estão fazendo melhorias. A nova linha Amarela do Metrô paulista, os (poucos) trens novos que chegaram com ar-condicionado (um luxo desnecessário em um país tropical, imagino) e a nova frota de ônibus da Sptrans (foram trocados, mas não aumentaram significativamente em quantidade).

Imagino que não sou o único a acreditar que com 40,5 MILHÕES de reais POR DIA, esses “esforços” das empreiteiras são mínimos em comparação com o que pode ser feito.

                    “Se não tá feliz, compre um carro!”

Uma vez um usuário da CPTM me disse isso (enquanto eu reclamava feito uma senhora desconfortável). Eu o ignorara sem saber o quão certo ele estava.

 Entre a classe média (que hoje é maioria da população brasileira), ter um carro é item constante na lista de conquistas. Alguém sabe o peso da indústria automobilística na economia brasileira?


As vendas de carros não movimentam somente o lucro de montadoras concessionárias, movimenta o setor financeiro com os financiamentos e seguros automotivos contratados, movimentam centenas de outros setores e pequenas empresas, como mecânicas, borracharias, até mesmo fabricantes de cadeirinhas - por algum motivo cadeirinhas são OBRIGATÓRIAS para transportar crianças, mas só se elas estiverem no carro, em um ônibus o assento preferencial sem cinto de segurança é mais do que suficiente - , movimenta até os lucros da própria Petrobras.


Sabemos que melhorias no transporte público, portanto, não são interessantes e estão fora de cogitação. Se alguém dúvida que o objetivo é simplesmente alimentar a economia que gira em torno dos carros, lembre-se que o ex-prefeito da cidade de São Paulo – Gilberto Kassab (DEM) – chegou a proibir até mesmo ônibus fretados na cidade no ano de 2009. Não cheguei a pesquisar a justificativa que ele usou - mas certamente não importa, notaram que foi sem noção.



O problema de deixar a população refém da economia são os efeitos colaterais – não entrarei no mérito do trabalhador que produz menos por já chegar cansado ao trabalho – como o trânsito. O Rio de Janeiro ainda conseguiu a proeza de ter o trânsito pior do que São Paulo, mas fatos como esses, as vezes contribuem para que as pessoas voltem ao transporte público.

O trânsito paulista forçou a prefeitura a criar as faixas exclusivas para ônibus, desafogando assim parte tráfego – a parte dos ônibus. Resultado: as pessoas voltaram a andar de ônibus depois de muito tempo debandando do transporte público.
               

Essa experiência mostra que qualquer melhora no transporte público contribui para sua maior utilização.

Agora imagine o melhor dos mundos: transporte público rápido, acessível, de qualidade e funcionamento de 24 horas por dia! Esse sonho nosso (me refiro aos usuários de transporte público) é perfeitamente possível com o bom uso dos 40,5 milhões que as empreiteiras ganham diariamente – é claro que tem o custo Brasil para elas, aquele de desviar o dinheiro para o governador.


O problema, caro leitor e usuário de transporte público metropolitano, é que o nosso sonho é o pesadelo de vários setores da economia. Estamos rendidos.

Esse autor não gosta de temas que propõem discussão e nenhuma solução. Em casos como esse a solução não é óbvia, e qualquer que seja vai gerar a fúria daqueles que detêm os interesses protegidos pelos nossos governantes.

Uma solução possível envolveria uma mudança cultural extrema e arriscada – mas que funciona em Bauru SP (estudantes pegam carona despreocupadamente para voltar para a casa e não oferecem risco aos motoristas).

Não imagino outra cidade onde quem tenha carro que se arrisque a dar carona para estranhos parados em um ponto de ônibus. Nem trabalhadores parados em um ponto de ônibus que se arriscariam a entrar no carro de qualquer estranho oferecendo carona. Mas está ai uma campanha a se incentivar, uma forma de manifesto e de boicote – afinal, não dá pra proibir as caronas.

Com um numero reduzido de usuários no transporte público e de carros circulando, a querida economia teria de encontrar outra forma de não definhar. Limitado que sou, vejo apenas duas formas: (1) melhorando de fato o transporte público para gerar a economia ao menos das empreiteiras; (2) notícias de aumento de criminalidade envolvendo casos de carona.


É, agora pensando bem sobre isso... estamos rendidos.




Fontes:










Um comentário:

  1. País desenvolvido não é onde o pobre tem carro.
    É onde o rico utiliza transporte público.

    ResponderExcluir